novembro 19, 2003

Cartas de... a...

A,

Relembro-te hoje, sentada naquela mesa de café em que nos conhecemos, as mãos sobre o tampo branco sujo em pedra e os ombros encolhidos pelo frio, sob o casaco grosso que trazias. Recordo as tuas mãos, os teus ombros e a tua filha, que não parava de nos interromper e fazer perguntas, que queria o bolo e o sumo, levantando o braço a chamar o empregado. No meio de duas frases e do desembaraço de mãe impunhas-lhe uma escolha, ou o bolo ou o sumo, que não podiam ser os dois, que perdia o apetite para o jantar. Recordo-te hoje assim sentada, calças pretas e casaco grosso, cabelo solto e voz suave e firme, interrompida pelos gritos da criança, Marta, que agora, de barriga cheia, olhava para mim e perguntava, Mãe, quem é o senhor? É o Rui? Não era o Rui, não sou o Rui, nunca soube que Rui era esse (...)

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