março 05, 2004

Subsídios precisam-se!


Há uma coisa que me intriga, ou que me surpreende, de há uns tempos para cá, nos inquéritos das revistas ditas literárias ou suplementos de jornais: normalmente quando perguntam a escritores, ou jornalistas que publicaram livros, a forma como eles arrumam os seus livros, todos eles têm respostas bastante diferentes e originais. Estantes, sofás, debaixo da cama, mesa do escritório, empilhados no chão, por côres, assuntos, país de origem, etc. Só há uma coisa em comum a todos eles: parece que existem mais livros do que espaço disponível lá por casa. Ora, isto é dito exactamente por quem diz também que não se vive da literatura em Portugal (nem do jornalismo, pelo menos do escrito, da imprensa), ou dito de outra forma (talvez mais correcta) não se vive da literatura em Portugal. De que outra forma justificar então a quantidade enorme de livros espalhados pelas casas destes nóbeis araútos da cultura Portuguesa? Quem tem comprado livros ultimamente sabe do que falo, os preços são incriveis, em comparação com os ordenados da maior parte dos Portugueses.
Isto vem a propósito da seguinte situação: no outro dia, na livraria Bertrand, aguardava a minha vez para pagar. À minha frente um senhor na casa dos quarenta anos, barba rala e cabelos grisalhos, magro, empilhava no balcão um monte considerável de livros. Contei-os, eram 11. Dos que consegui ver havia uma edição do Perfume, de Patrick Suskind, uma do A Mancha Humana de Philip Roth, um do Alçada Batista e outro do Lobo Antunes, acho. Contas de cabeça por alto calculei que ia pagar uns 130, 140 euros. Nisto pergunta ao empregado do balcão por uma edição de Heráldica que tinha visto na montra, mas que não encontrou exposta. Era uma edição composta por dois livros, grossos, de capa escura, ao preço de 75 euros cada. Levou dois exemplares de cada conjunto, um para ele, outro para ofereçer. Ao todo, naquele inicio de noite, o senhor de barba rala e cabelo grisalho, pagou pelos livros 437,76 euros! Pouco menos de metade do meu ordenado mensal... Atrás dele eu aguardava, com um exemplar de O Mel de Tonino Guerra e outro de O Bairro Judaico de Mário Rui de Oliveira, e senti-me tão pequenina...
Das duas uma, ou ele era um desses escritores que não tem espaço em casa para arrumar livros, ou sobrinho do Belmiro.