Os Invisíveis

Doze contos. Doze histórias breves. Muito breves. Com homens e mulheres à deriva. Seres vulgares, mas seres humanos. Com pensamentos e sentimentos. Todos no descontentamento de si ou do que os rodeia. Todos perdidos no espaço e no tempo que lhes coube em sorte. E de que a autora fala com contida emoção, desdobando a meada de uma solidão sem esperança, enquanto entre o cáustico e o enternecida nos torna cúmplices ou carrascos da vida dessa gente.
Mais do que retratar pessoas avassaladas pelo nada, sem outra coisa além da casa ou da rua e mesmo aí perdidas, invisíveis, aborda com um hábil e delicado sentido de observação a vida tal como é vivida por quantos são, quase sempre e só, consumidores de sonhos, derrotados de esperança. Gente que vive além do trabalho, do amor, do diálogo, pois essas são formas de êxtase que lhes foram recusadas, por excesso ou por falta, e a quem não resta nada senão a morte esplendorosa, porque chave de um além que é o fim do sofrimento. Indivíduos que se colocam, pois, entre parêntesis e mantêm a ilusão de viver. Indivíduos encerrados e condenados ao covil dos hábitos, com existências terrivelmente monótonas, qual castigo que sofrem em silêncio. Não se trata de masoquismo, porque não retiram daí nenhum prazer, mas da assunção de uma tragédia e tragédia grandiosa porque cheia de gente. Uma tragédia onde raramente se ouvem queixumes, pois são mais os desabafos e quase sempre breves, num desfastio próprio de quem se habituou a sofrer.
Carlos Bessa