agosto 11, 2004

A palavra

Chegar aqui pelo calor das mãos, pelo cheiro confortável de dedos amigos, e sentir a força do mar numa pedra, numa lagoa escondida no meio da montanha. A força do mar no que resta do gelo do inverno. Chegar aqui no verão e ser inverno, como se tudo isto fizesse sentido, como se fosse ter um fim. A palavra como inicio de tudo, a palavra para sermos, acima de tudo para existirmos. Para nos tornar diferentes de tudo o resto. E com ela construir uma montanha no meio do mar, com caminhos, flores, nevoeiro, portas de ferro que se abrem para lugar nenhum, vidros partidos que se reflectem uns nos outros. Criar isto tudo e abandonar, porque nada nos pertençe, ou aos outros, nada. Nem a palavra, apesar de existirmos por ela. E ela não chega, quando mais se precisa. Ela não é, nunca é, aquilo que realmente queremos, que pensamos. E morremos nessa tentativa absurda de que o seja. De que, assim sim, tudo seja ciclico e final. De que assim, por fim, entendamos