agosto 06, 2004

Poema antes da voz

toda a luz em ti está nas entranhas
o sangue corre mais espesso junto à pele
e os cadernos fecham-se na película
impressos pela objectiva das coisas
que já não existem

o mistério das que ainda resistem
presas na memória da infância
que teima em regressar

durante muito tempo incomodaram-me as capas dos livros
a arrumação ordenadamente lógica das montras das livrarias

hoje sei que por detrás deste ofício existe um outro
que leva ao centro

aqui tenho sonhos que não conto a ninguém
aqui o tempo é mais curto e o espanto
de ter tempo é efémero, como o espaço

aqui ganho raízes dividido no prato da balança
em que uma palavra basta