Poema antes da voz
toda a luz em ti está nas entranhas
o sangue corre mais espesso junto à pele
e os cadernos fecham-se na película
impressos pela objectiva das coisas
que já não existem
o mistério das que ainda resistem
presas na memória da infância
que teima em regressar
durante muito tempo incomodaram-me as capas dos livros
a arrumação ordenadamente lógica das montras das livrarias
hoje sei que por detrás deste ofício existe um outro
que leva ao centro
aqui tenho sonhos que não conto a ninguém
aqui o tempo é mais curto e o espanto
de ter tempo é efémero, como o espaço
aqui ganho raízes dividido no prato da balança
em que uma palavra basta