No tempo das flores
(...)
Desta falta de tempo, sorte, e jeito,
Se faz noutro futuro o nosso encontro.
António Franco Alexandre, Uma Fábula, Assírio & Alvim
Sempre soube que o ia encontrar numa livraria, entre prateleiras de volumes grossos e escaparates com livros de capas coloridas, entre os livros que fazem dele tudo aquilo que ela é. Sempre soube que ia ser assim, as capas a formarem um puzzle sobre a mesa de trabalho, a transformarem-se num quadro impossível. Sempre soube o seu rosto e que o nome era Tom, 'quando o encontrar é aí que vou ficar'. Sempre soube que se escrevia em pequenos blocos de capa preta e que tinha viajado muito, Itália e Londres, a Rússia. Conhecia o seu corpo na neve, a sombra que fica nos espelhos.
Naquela noite sonhou com a torre. Quando acordou, com o barulho do vento nas portadas grossas, ficou-lhe uma ladainha do lado dos sonhos: 'se nos encontrarmos de novo vai ser no tempo das flores'. Queria que ele estivese ali, que a embrulhasse em folhas de acetato e a protegesse das coisas más, dos monstros. Sempre soube que ia ser assim. E tudo o que disse fica por agora perdido, até que num acaso se encontrem de novo.
Naquela noite sonhou com a torre. Quando acordou, com o barulho do vento nas portadas grossas, ficou-lhe uma ladainha do lado dos sonhos: 'se nos encontrarmos de novo vai ser no tempo das flores'. Queria que ele estivese ali, que a embrulhasse em folhas de acetato e a protegesse das coisas más, dos monstros. Sempre soube que ia ser assim. E tudo o que disse fica por agora perdido, até que num acaso se encontrem de novo.
(continua)