O almoço (2 de 7)
Hoje, depois de escrever o texto anterior, saí para almoçar no restaurante do costume. Ele já lá estava, o tronco inclinado sobre a mesa onde escrevia, o bloco em cima de uma toalha de papel. Sentei-me ao lado, numa mesa que por sorte não estava ocupada, e arrastei a cadeira com força, na esperança de que ele ouvisse e me visse. Se ouviu, não levantou a cabeça, nem desviou os olhos na minha direcção. Chamei o empregado, escolhi, pedi o prato e agora éramos dois à espera do almoço. Eu não escrevia. Comecei a remexer na mala à procura não sei bem de quê, quando a sua voz no meu ouvido
tens uma caneta
numa língua que eu podia entender. E eu tinha, mas a minha é de tinta preta, de ponta grossa, e não quero estragar a estranha harmonia das suas palavras.
não
disse.
(continua)
tens uma caneta
numa língua que eu podia entender. E eu tinha, mas a minha é de tinta preta, de ponta grossa, e não quero estragar a estranha harmonia das suas palavras.
não
disse.
(continua)