O homem que escreve enquanto espera pelo almoço (1 de 7)
Todos os dias da semana é assim: chego ao restaurante para almoçar e ele já lá está. Sentado a uma das mesas do fundo escreve, nos seus blocos pequenos, enquanto espera pelo almoço. Quando me aproximo e me sento perto não dá pela minha presença, nem pela das outras pessoas, ou se importa com o ruído de fundo da televisão. De vez em quando levanta a cabeça e desvia os olhos na direcção do empregado de mesa. A semana passada escrevia num bloco de capa preta dura, tipo moleskine, mas sem elásticos, hoje é num de argolas, pequeno, utilizando uma caneta de ponta fina, azul. Nunca consegui ler o que escreve, a caligrafia é difícil, de letra pequena e corrida e numa língua estrangeira, tal como ele é, de certeza. Aqui somos todos estrangeiros, mas nem todos escrevemos enquanto esperamos pelo almoço. A maior parte das pessoas olha para a televisão, outros falam ao telefone ou com colegas e amigos. Ele escreve e quando o prato com a comida chega, guarda tudo num canto da mesa e só lhe volta a pegar para ir embora.
(continua)