março 21, 2005

É assim

É assim:
a gente despede-se, vai-se
embora amaldiçoando a terra,
carrega amargura que nem o diabo
aguenta; com o tempo vai
esquecendo injustiças, mágoas,
injúrias, morrendo por regressar
ao cheiro da palha seca, ao calor
animal do estábulo,
ao sonho do quintalório
com três alqueires de milho ao sol
e dois pinheiros bravos -
porque não há no mundo
outro lugar onde
enfim dê tanto gosto chafurdar.

in O Sal da Língua, Eugénio de Andrade