abril 15, 2005

De novo a casa

Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.

Eugénio de Andrade, Metamorfoses da Casa, Ostinato Rigore, 1964



Diz-me da casa como sangue e como boca
musical amante do branco, no branco,
das pequenas pedrinhas incrustradas
e das conchas, na areia das paredes.
Diz-me da terra como dos líquidos
do nevoeiro, que não é uma coisa
nem outra, espuma de céu e de bicho
nas mãos que rasgam e roem.
Diz-me de tudo como no ventre
o eterno retorno, a respiração
por dentro, os romances e as personagens
por quem te apaixonas, que te amam.
Diz-me, ou então fala, que eu escuto.