Torradas
março 24, 2005
março 23, 2005
março 21, 2005
É assim
É assim:
a gente despede-se, vai-se
embora amaldiçoando a terra,
carrega amargura que nem o diabo
aguenta; com o tempo vai
esquecendo injustiças, mágoas,
injúrias, morrendo por regressar
ao cheiro da palha seca, ao calor
animal do estábulo,
ao sonho do quintalório
com três alqueires de milho ao sol
e dois pinheiros bravos -
porque não há no mundo
outro lugar onde
enfim dê tanto gosto chafurdar.
in O Sal da Língua, Eugénio de Andrade
março 17, 2005
Que por ti perdi
O mar dentro da árvore, as nuvens
dentro da terra sem fim,
a luz. A luz dentro doutra luz
que limitava as mãos e as abria
para outras mãos dentro de um olhar.
(...)
A vida acumulou-se em roldanas ao redor de tudo,
um fumo que sobe durante a noite sobre os mapas
enrolados na parede despida, há tanto nos esquecemos
de os desdobrar, de por eles chegar aos confins
do nosso mundo. E já estamos a desaparecer.
Joaquim Manuel Magalhães, As Escadas não têm Degraus, Livros Cotovia, 1990
março 09, 2005
Rogar
Hoje está calor e apetecia-nos ter nas mãos e nos braços a terra molhada que escorre pelas paredes de pedra dos túneis da Regaleira.
in Húmus