junho 18, 2004

Férias de verão - parte 1

O verão tem destas coisas, aliás a vida tem destas coisas, por vezes faz-nos querer seguir por outros caminhos, fazer coisas diferentes, agarrar oportunidades que nunca mais se irão repetir. Alguns dos blogs que me habituei a seguir atentamente, remodelaram-se, fecharam, definitava ou temporariamente. A Carla fez blog-off, o Rui abrandou. Até a Inês partiu, a caminho de novas aventuras nas terras de Borges e Neruda. Se puderes fica, amiga, não voltes. Nós iremos encontrar maneira de rodear as saudades.
A partir de amanhã vou a banhos, pelo que esta xafarica irá estar encerrada durante os próximos onze dias. A todos os que, por vezes fazem favor de passar por aqui, um até breve e o desejo de um bom inicio de verão.

junho 16, 2004

Diálogos

Excerto de uma conversa minha com um norte-americano, recém chegado a Portugal:

Ele - O que são aqueles panos verdes e vermelhos nas janelas?
Eu - São a bandeira nacional do nosso país.
Ele - Junho é o mês para os Portugueses lavarem a bandeira nacional?
Eu - Ahhhhh???
Ele - Há outra explicação para elas estarem penduradas ao sol, nas janelas?
Eu - Pois... olha sabes quem é o Scolari?
Ele - Quem?
Eu - Esquece. Sabes o que é o futebol?
Ele - Ahhhhh?

(Penso: será que ele tem explicação para as bandeiras penduradas nas antenas do automóveis?)

97.8 FM ou a importância da amizade

Hoje descobri que esta 'menina' também ouve a Radar (97.8 FM, só na região de Lisboa). Que gosta de Franz Ferdinand é só um extra, o que interessa mesmo é que cada vez escreve melhor.
Redescobri também a importância da amizade, num texto lindissímo, de uma outra 'menina'. Agora que se construíram, ou remodelaram, dez estádios para o Euro 2004 é sempre bom ler que ainda alguém se senta nas "bancadas do campo de futebol da portela de sacavém."


O Norte e o Sul

"Nunca sabemos bem em que ponto acaba ou começa uma ideia e esta parece esquisita. O norte e o Sul? A verdade é que cada um de nós se concebe e concebe o mundo a partir do lugar onde vive e nasce e onde quer morrer. O Norte e o Sul tornaram-se dois conceitos geoestratégicos ou económicos, mas são também dois conceitos literários, com uma forte carga simbólica e romântica. O Norte e o Sul existem no nosso corpo físico, e todos temos um Norte e um Sul dentro de nós e existem no nosso corpo mental, como regiões da fantasia ou da viagem. O Norte e o Sul definem-nos, dão-nos uma relação de pertença. O que os separa e os encontra? Onde é que o gelo e o frio determinam um Ibsen e um Strindberg e o calor e o trópico determinam um García Márquez e um Jorge Amado?"

Clara Ferreira Alves, no editorial da revista Tabacaria Nº 13, edição Casa Fernado Pessoa

O ritual da escrita

Tenho um caderno para o romance, de capa preta, dezenas de páginas impressas com linhas na horizontal. Tenho as canetas, a mesa, a tábua de madeira para colocar sobre os joelhos. Tenho um exemplar do dicionário mais recente, uma gramática e um marcador grosso para as correcções, preto também. Acho que não me falta nada. Vou começar por escrever em folhas brancas, soltas, mas numeradas, depois corrigir e passar a limpo no tal caderno de capa preta e corrigir de novo. Espero com isto conseguir um texto tão limpo quanto possível.
Gostava que a capa fosse o quadro dos girassóis de Van Gogh, simplesmente por ser o mais pefeito de todos, a contrastar com o romance. Quero-o com falhas, com erros, de texto limpo, mas com possibilidade de ser melhorado. Dentro em breve penso ter condições de iniciar o trabalho, agora só me resta escolher sobre o que escrever.

Verano azul

Autores para ler este verão, em Londres (ou em Dublin, quem sabe...):

Jean Rhys
Iris Murdoch
Rupert Brooke

Bloomsday

Faz hoje cem anos que começou o mundo.

junho 14, 2004

A Portuguesa

A esta hora, pela janela do escritório só vejo duas cores, verde e vermelho (o azul, branco e amarelo ao centro da bandeira são insignificantes). De manhã, quando saí de casa era a mesma coisa, tudo verde e vermelho. Entrei no carro, percorri alguns metros e de novo tudo verde e vermelho: nos outros carros, nas montras dos cafés, nas janelas da casas, penduradas nas árvores, na gaiola do periquito, na antena de televisão.
Ontem à noite, antes de adormecer, pensei que uma imensa onda rosa se espalhava pelo país. Ou talvez fosse depois de adormecer.

Sinais de retoma

O Sr. Primeiro Ministro tem razão, os sinais da tão esperada retoma estão aí, os números não enganam: 44,52% dos Portugueses que votaram ontem (ou 57,54% se juntarmos o PCP e o BE) preferem outra politica. 61,25% dos Portugueses, pelos vistos, nem quer saber de politica, quanto mais de uma nova. Realmente, Sr. Primeiro, temos muitas razões para estar optimistas. Não fosse a nossa selecção estar a jogar tão bem e eu não sei onde isto ia parar.

junho 09, 2004

Edward Hopper

Este verão todos à Tate Modern.


Summertime, 1943
Delaware Art Museum; Gift of Dora Sexton Brown



junho 08, 2004

Do outro lado do rio

Aprendi a amar outras cidades que não a minha, através de estadias longas, na companhia de conhecedores ou de habitantes locais. Não só cidades, vilas e aldeias também. As mais bonitas no Alto Alentejo. Castelo de Vide, Póvoa e Meadas...
Ontem voltei ao Porto, com um 'estrangeiro', e pude observar a cidade quase sempre do outro lado do rio. Descobri as vantagens de se viajar 'à pendura'. Ouvi o mar forte do lado de Gaia, o azul suave na janela do quarto pela manhã. Quando se aprende a amar (uma cidade ou não) não se esquece. Nem que a forma seja diferente, nem que seja só de passagem.

junho 03, 2004

Quase epitáfio

(...)
e, agora que começam
os anos a pesar
mais para trás que para a frente, acodem-nos
recônditas palavras aos ouvidos:

«Fecharam-se-te os olhos e eu fiquei de fora»,

«Nas tuas mãos começa o precipício».


Luís Miguel Nava
Vulcão, Poesia Completa 1979-1994
Publicações D. Quixote, 2002

junho 02, 2004

Discurso na secção de perdidos e achados

Perdi umas quantas deusas a caminho do sul para o norte
e muitos deuses a caminho do oriente para o ocidente
Apagaram-se-me de vez algumas estrelas, abra-se-lhes o céu!
Afundaram-se-me uma ilha, outra ilha.
Não sei bem onde deixei as minhas garras,
quem veste o meu pêlo, quem mora na minha carapaça.
Morreram-se-me os irmãos quando rastejava da água para a terra
e só um ossinho festeja em mim aniversário.
Pulava para fora da pele, não poupava vértebras nem pernas,
inúmeras vezes perdia os sentidos.
Há muito fechei a tudo isto o terceiro olho,
abri disso barbatana, encolhi os galhos.

Sumiu-se, perdeu-se, o vento levou.
Eu própria me admiro, quão pouco de mim restou
do género por enquanto humano, pessoa singular
que ontem no eléctrico um guarda chuva deixou ficar.

Wislawa Szymborska
in Wszelki wypadek (Em todo o caso, 1972)
Cavalo de Ferro, 2004

junho 01, 2004

Dia Mundial da Criança

Porque o melhor do mundo és tu:



e porque todos os dias são para ti.