outubro 29, 2004

O reflexo do poeta é o poeta

Eugénio de Andrade

















Foto de Alfredo Cunha

outubro 28, 2004

A porta

Hoje vou contar a história de uma porta que foi para capa de livro.
Tiraram-lhe várias fotografias, escolheram uma. Imprimiram, imprimiram, imprimiram...
E agora ela está a guardar as palavras de um escritor maldito que ninguém lê.
FIM

O cheiro a RELÂMPAGOS pela manhã

outubro 27, 2004

O Paradoxo - parte 2

Leio e releio, atento, o paradoxo do JPN, logo hoje que este blog deixou o singular silêncio dos últimos dias e passou a escrever-se na terceira pessoa, do plural.

Dúvida existencial (hoje)

Apontar no caderno de elásticos para escrever no blog ou escrever no blog para copiar para o caderno de elásticos?

No inicio somos todos iguais

Anda toda a gente, na blogoesfera, preocupada com o encerramento de alguns blogs, ou em acabar com os seus. Hoje deu-me para ver como começaram alguns dos que não perco nem uma vírgula. E o que melhor definiu o seu futuro nos primeiros posts foi A Natureza do Mal. Conferir aqui e aqui.


Poemas escritos provavelmente há 20 anos

E assim o mundo respira começando
na abertura da palavra que se erige
no pudor de ser a nudez de uma atenção
que não quebra a solidão amante e virgem do vazio

António Ramos Rosa, poemas inéditos no MilFolhas de 23 de Outubro de 2004

Nota: no mesmo suplemento, a certa altura da entrevista o poeta diz: 'cheguei à conclusão que as mulheres mais terríveis não são aquelas puramente selvagens, são as domésticas selvagens. Ou as selvagens domésticas...' Ele lá terá as suas razões.

outubro 19, 2004

para a tua vida

"quanto aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor sincera e desordenada"
Alda Lara

é pequena a minha morte para a tua vida. para a dor sincera
e desordenada que se passeia insone.
morro várias vezes para oeste. o vento aconhega-se na boca.
em confissões e artérias este berço este sangue
esta chuva trôpega pelo rosto.
deslizes, terramotos, hemoptises no feixe das flores.
há barreiras de facas a babarem-se no mar onde não agem os peixes.
é pequena a minha morte para a tua vida. para a tua dor.

mariagomes
out.2004

outubro 15, 2004

A explosão

(ou o próprio dia a acordar com os pés de fora)

sabes, é como correr com a morte que se precipita num vaso com água até meio, é mergulhar lá dentro e não voltar mais, é ver, de novo, cruzes nas portas dos cafés, dos quiosques, impressas em brancos papeis A4; sabes, o joão era tudo para ele, e hoje aparece no blog, hoje aparece no outro lado.

(para que não me esqueça)

vou colocando em teus cabelos cinzas de relâmpago

Julio Cortázar, versão de manuel a. domingos

outubro 14, 2004

O mal de elsinore

como viver com estas minúsculas
intempéries, a régua sobre a mesa, a chuva
pendurada nos altos telégrafos da paciência?
(...)
é justo que esperemos
transparentes respostas; e que algures
se acabe a transparência, e fique
uma parede lisa; e que nos doa
a memória do enigma. daí, decerto, estas casas
imóveis, com os pássaros a meio;
o rumor dos grandes diques luminosos;
e as mulheres, sentadas nas oliveiras, com
lençóis azuis atados ao cabelo. e ao lado,
a imagem representa um sarau de província, o consumo
inusitado das lareiras, a crise que aguardamos.

somos acaso a silenciosa escravatura das águas? como
obedecer ao requerimento das cortinas, quando
ao erguê-Ias a brisa avistamos o passado
de unhas redondas junto à balustrada? e outra vez
nos escapa o sítio de vastos planaltos, o tropel
dos búfalos, das esteiras secretas, do assobio
junto das portas levemente azuis.
deixarei :
que me devorem os cachimbos do sal, a madrugada
violeta de antimónio. assim me saberão
a prazer os prazeres, como as nuvens
no ascensor dos fornos siderúrgicos, ou
tardes de poder popular. depois

as palavras, e a sua sombra nos armários
da greve, escaparão ao nosso ardor.
as planícies não cabem neste modesto horóscopo
que lhe anuncia o sofrimento, ambas as mãos
surdas ao princípio do dia, e a sucessiva
descoberta dos seus fins.

António Franco Alexandre
Os Objectos Principais
Poemas, Assírio & Alvim

outubro 12, 2004

O poema, hoje

The stars now rearrange themselves above you
but to no effect. Tonight,
only for tonight, their powers lapse,
and you must look toward earth. There will be
no comets now, no pointing star
to lead where you know you must go.

Look for smaller signs instead, the fine
disturbances of ordered things when suddenly
the rhytms of your expectation break
and in a moment's pause another world
reveals itself behind the ordinary.

And one small detail out of place will be
enough to let you know: a missing ring,
a breath, a footfall or a sudden breeze,
a crack of light beneath a darkened door.

Dana Gioia, Daily Horoscope, Greywolf

'porque eu acontece-me isso de escrever'

Cheguei a ele, ou melhor ao antigo escala-estantes, ao mesmo tempo que cheguei aos blogs. Habituei-me a seguir o que dizia, no meridiano, no bicho e agora no bengelsdorff.

A certa altura copiei para aqui dois poemas seus. Agradeceu por mail revelando a 'pessoa normal' que é com a frase 'Gostoprecisomesmo só de escrever e de ler, nada mais'. Depois veio a pergunta, o desafio: 'A escrita, amigos...de onde vem a vontade de escrever, a necessidade? Porque se leva isso tão a sério cá dentro?' E o elogio 'como me parecem pessoas de qualidade e formidáveis...' (nesta altura ainda a Inês andava por cá).

Com ele descobri a Ana e os Matraquilhos, e foi por ela que descobri que ele se vai embora.
Assim tudo faz sentido. Até que nos encontremos de novo, naquela que sempre foi a minha livraria.

Devolvo-te as tuas palavras:
'Abraço acanhado de quem é perseguido pela compulsão de escrever'

outubro 08, 2004

sou

o homem que nunca compreendeu.

Daniel Faria, Poesia, Quasi

outubro 03, 2004

Primeiro aniversário

1

ano a fazer torradas
pela manhã