Torradas
abril 28, 2004
abril 26, 2004
(R)Evolução (outra vez)
No dia da Revolução fui ao Jardim Zoológico de Lisboa. Evoluí durante oito horas entre leões e elefantes, cobras e golfinhos. Será que perdi o R?
abril 23, 2004
Ninguém é mais pobre que os mortos
Não sei se você já morreu. Estou a escrever isto num comboio que atravessa a França de Montepellier a Paris, os solavancos da carruagem tornam-me a letra esquisita e não sei se você já morreu. Quando o vi no hospital do cancro, magríssimo, sem cabelo, sem forças, quase incapaz de falar, pensei
- Vai durar um ou dois dias, uma semana no máximo
e portanto não sei se você já morreu. Na cama ao lado da sua um homem olhava para mim de uma maneira que não vou esquecer, parecia um bicho aterrado. Você tinha atrás de si a fotografia da equipa do Belenenses, escrito à mão na fotografia - porque não havemos de ser campeões?
e mesmo que sejam campeões você não saberá porque você vai morrer. Vai morrer aos trinta e quatro anos (cedo não é?) vai morrer de cancro, não há um centímetro do seu corpo que não esteja apodrecido pelo cancro, você vai morrer Tó, você vai morrer. Vai morrer enquanto eu, em França, vivo o sucesso do meu livro, dos meus livros, tenho a imprensa e os leitores aos pés, o editor trata-me como se eu fosse (e sou) a criatura mais preciosa deste mundo, os críticos pulam de alegria, ando de apoteose em apoteose e você vai morrer, Tó, vai morrer e, se calhar, pelo facto de ir morrer, pensa que pode obrigar-me a pensar em si o tempo inteiro, a não ligar a esta barulheira à minha volta, a esquecer que sou um génio, que fui eu, não o Belenenses, quem ganhou o campeonato este ano, pensa que pode ocupar as minhas noites com o seu sorriso, a sua coragem, os seus dedos magríssimos a apontarem uma televisão pequenina
- Faz-me companhia
e as pálpebras a fecharem-se, exaustas, a sua dignidade, a sua ausência de pieguice, a sua morte tão próxima, Tó, a sua morte aqui mesmo porque você vai morrer. Ninguém é mais pobre que os mortos, disse uma escritora americana que também morreu nova, você não é só pobre morto, Tó, foi também pobre vivo, não tem o direito de perseguir um homem importante como eu (quem é você ao pé de mim, você não é nada ao pé de mim, você não sabe que não é nada ao pé de mim) deixe-me em paz, não me aborreça com a sua vontade de viver, a sua vontade de lutar, não seja mais valente do que eu (você não é nada ao pé de mim) porque sou eu que estou vivo, Tó, e você vai morrer, não me atormente com os seus projectos, os seus planos, você sente que vai morrer, Tó, você vai morrer.
Ao sair do instituto do cancro, depois de visitá-lo, só tive ganas para me encostar a uma coluna e permanecer ali, estupidamente, a olhar os arbustos, as árvores, as pessoas que entravam, o seu pai que tirou o lenço do bolso das calças quando a voz lhe tremelicou um bocadinho, o seu pai que se recompôs logo, Tó, num pudor que me custou ainda mais, o seu pai
- São uns dias
e você lá dentro, perto da janela, a morrer. Disse-me
- Gostava que lesse umas coisas que escrevi
isto não na visita ao instituto do cancro, um tempo antes, pelo telefone, eu
- Claro que sim
para não contrariar um moribundo, um rapaz de trinta e quatro anos todo roído pela doença, eu sem a menor intenção de ler fosse o que fosse, a desculpar-me, calado
- Não posso ler tudo o que me mandam e, no entanto
- Claro que leio, Tó, claro que leio
tentando ser agradável para si porque você é pobre, porque ninguém é mais pobre que os mortos e você vai morrer. Vai morrer e devia ter tido a educação de não me arrastar na sua morte trazendo-me à cabeça pessoas de quem gostei e que partiram, morreram de uma morte igual à sua, Tó, morreram e deixaram-me e agora é a sua vez, percebe, não tenha esperança, Tó, desista, não adianta ter esperança porque você vai morrer, está a morrer, você está a morrer e eu aqui, no estrangeiro, no meio deste aplauso todo (que vitória a minha, inveje-me) a voltar para o hotel, a fechar-me no quarto e a vê-lo o tempo inteiro à minha frente, Tó, o seu sorriso, o seu aperto de mão sem energia alguma, os seus gestos sem força e não se iluda que você vai morrer, não me mace com os seus planos (você não tem espaço para planos) os seus projectos (não há-de cumprir nenhum projecto) os seus sonhos (que veleidade a sua, ter sonhos) acabe com as fantasias, Tó, você vai morrer, um dia ainda, dois dias, cada vez mais sonolência, mais morfina, vai morrer longe de mim, em Lisboa, no meio dos outros cancerosos que vão morrer também, você vai morrer. Na janela do comboio árvores, rios, o sol, calcule, calor, calcule, um tempo lindo para mim, não para si, o tempo terminou para si, logo telefono para casa
- O Tó? (e, se calhar, um silêncio, o mais provável é que um silêncio, eu)
- O Tó?
e então, no meu ouvido
- O Tó morreu, sabias?
- O Tó morreu. Vou acabar isto, amigo, escrevi demais sobre a sua morte sem importância alguma, sobre os seus trinta e quatro anos sem importância alguma, quem era você? Por quem se toma você? Só acho que isto é um pesadelo, Tó, que não é verdade, só acho que nada disto é verdade, só quero achar que nada disto é verdade, percebe, garanta-me que nada disto é verdade, garanta-me que não morrerá, Tó, não morrerá, eu leio-lhe os contos, prometo, e pode ser que goste deles porque simpatizo consigo, porque (acho eu) gosto de si, porque me dói vê-lo morrer, Tó, faça-me um jeitinho, não morra, diga-me, com a sua cara magríssima, os olhos apagados, a boca sem cor que não morrerá, que, com um pingo de sorte, o Belenenses há-de ser campeão e precisa de viver para assistir a isso, precisa de assistir a isso, Tó, o Belenenses campeão, imagine a alegria que vai ser, meu Deus, o Belenenses campeão.
crónica de António Lobo Antunes
na revista Visão de 9 de Outubro de 2003
abril 22, 2004
Árvores com história
Porque o espetáculo lilás que o jacarandá do Largo do Viriato dá todos os anos em Maio ou o alvoroço dos pardais e estorninhos sob a folhagem das magnólias do Jardim de S. Lázaro são tão belos como a Vénus de Milo e como o binómio de Newton. O que há, como dizia o outro, é pouca gente para dar por isso. E para deslumbradamente descobrir que o belo é útil por ser belo.
por Manuel António Pina, na revista Visão de 22 Abril de 2004
(É por estas, e por outras, que muitas vezes me arrependo de morar em Lisboa. Haverá alguém actualmente a escrever assim sobre Lisboa? Esta edição da Visão tem ainda Lobo Antunes no seu melhor, fotografias de Sebastião Salgado, Ayrton Senna e José Mário Branco)
Um só acorde
de ti e de mim fazer um só acorde,
um acorde só.
Eugénio de Andrade
Sei que me recordas hoje, por dentro de um sonho que se fixou em mesas de café e em flores, que sentes o mesmo em cada esquina em cada criança que vês passar ou nascer. Vês sempre nascer crianças quando recordas o sonho lá no fundo do quarto branco do hospital
sou eu
és tu que escreves por cima do ombro, no jornal da manhã de ontem que te trouxe do quiosque ao lado do café, de frente para o quarto. Foi no café que te vi uma vez, a primeira,
ou no outro
pessoas em volta e o som confuso da hora que já se tinha perdido.
crianças.
Sonhos ainda de crianças, de mães, partos de filhos adoptados que não querias sentir. Ser mãe, recordas o café em que foste mãe a primeira vez? O mundo em que ele nasceu, as mesas, o quarto branco do hospital, recordas o quarto branco em que ainda estás, já não o vês. Sei que me recordas uma vez e depois esqueces. Toda esta gente que conta os minutos que já perdemos e voltamos a perder. Dentro do carro,
na praia
quantas vezes viste a praia sem ser de dentro do carro, frio, tanto frio e o cobertor que não chega. O verão. Foi no verão e é outono nesta janela, no quiosque com vista para o quarto, para os jornais que escreves comigo por cima do ombro. Na praia, sabes, ser mãe do mar e da areia, não sair do carro e nem estrelas pelo nevoeiro, pelas luzes por tudo se embaciar, ser tudo no espaço de um minuto que não vi e depois nada. Sem desencontros. Nada.
Aos poucos as horas repetem-se também, e os sonhos continuam a não fazer sentido,
flores e fumos
crescem em redor dos dedos que se envolvem, dos olhos que sentem e dizem o que mais ninguém, sentes? Não podes, três minutos,
uma hora
sais e não podes, o que será da noite sem o beijo, falas e dizes-me tudo, não oiço, não quero, saio e, não saio nunca, saio e deito tudo fora, não tenho segredos. Não ouviste, os pássaros e a força do vento no meu beijo,
teu
que teima em se repetir no mesmo gesto, ir à praia e não sair do carro, o beijo que apaga as estrelas e embacia tudo. Repetes as palavras no meu peito e nos meus dedos, em tudo, só porque não sentes os poetas, sais,
saio
sais e deixas a porta aberta o mar que embacia tudo, o beijo que sai e fica no carro e na praia com vista para o quiosque na mesa do quarto do hospital. E da janela é outono, é sempre outono na janela. Foi no verão e é outono, outro e outro, são sempre as crianças que medem o tempo. Hoje é aqui e amanhã. Recordas hoje, sonhas uma esquina de um quarto entre portas, como mãe no escuro e o filho que sente no escuro do ventre. Sinto, mãe, o ventre é cá fora é dentro do quarto, do hospital, o ventre é no homem que vende os jornais sem um sorriso e na caneta que me escreve os dedos, mãe, não saí do ventre, fiquei com os vidros embaciados a tentar ver as estrelas enquanto o outono e as palavras das crianças.
As flores.
No sentido de tudo voltar a ser como era, o sonho de ser mãe numa mesa de café, com pássaros e jornais, frio. Tenho tanto frio neste quarto de hospital, paredes brancas e o jornal que me aquece os pés, que o cobertor não chega. Quem ficou a ver o mar pelos vidros do carro, mãe? Que faz aquela criança lá fora e eu abraçada ao quiosque e ao Sr. que vende jornais sem um sorriso,
as flores,
o sangue nos dedos, na escrita, o meu peito que cresce para o mar. Ver-te fora do café, num beijo, sem um sorriso, com todo o tamanho do mundo. Sei que recordas hoje a noite em que sais-te e o mar embaciou o beijo e o colou aos vidros,
sei.
Luz súbita
Já estive aqui antes,
Mas quando ou como não sei dizer:
Conheço a relva para lá da porta,
o cheiro doce e súbtil,
o som dos suspiros, as luzes ao longo da costa.
Já foste minha antes, -
Há quanto tempo posso não saber:
Mas quando naquele vôo de andorinha
O teu pescoço se virou,
Algum véu caiu, - Eu soube tudo de ti.
Já foi deste modo antes?
E não deveria então o vôo em turbilhão do tempo
Ainda com as nossas vidas renovar o nosso amor
Apesar da morte,
E uma vez mais noite e dia se revelarem um encanto?
(tradução livre do poema Sudden Light de Dante Gabriel Rossetti)
abril 21, 2004
Aqui vai uma ajuda
Crowded House (1986)
Mean To Me / World Where You Live / Now We're Getting Somewhere / Don't Dream It's Over / Love You 'Til The Day I Die / Something So Strong / Hole In The River / Tombstone / Can't Carry On / That's What I Call Love
Temple of Low Men (1988)
I Feel Possessed / Kill Eye / Into Temptation / Mansion In The Slums / When You Come / Never Be The Same / Love This Life / Sister Madly / In The Lowlands / Better Be Home Soon
Woodface (1991)
Chocolate Cake / It's Only Natural / Fall at Your Feet / Tall Trees / Weather With You / Whispers and Moans /Four Seasons In One Day / There Goes God / Fame Is / All I Ask / As Sure As I Am / Italian Plastic / She Goes On / How Will You Go
Togheter Alone (1993)
Kare Kare / In My Command / Nails In My Feet / Black And White Boy / Fingers Of Love / Pineapple Head / Locked Out / Private Universe / Walking On The Spot / Distant Sun / Catherine Wheels / Skin Feeling / Together Alone
Recurring Dream (The very best of - 1996)
Weather With You / World Where You Live / Fall At Your Feet / Locked Out / Don't Dream It's Over / Into Temptation / Pineapple Head / When You Come / Private Universe / Not The Girl You Think You Are / Instinct / I Feel Possessed / Four Seasons In One Day / It's Only Natural / Distant Sun / Something So Strong / Mean To Me / Better Be Home Soon / Everything Is Good For You
Limited Edition Live Album: There Goes God / Newcastle Jam / Love You 'Til The Day I Die / Hole In The River / Private Universe / Pineapple Head / How Will You Go / Left Hand / Whispers And Moans / Kill Eye / Fingers Of Love / Don't Dream It's Over / When You Come / Sister Madly / In My Command
Afterglow (Raridades e Lados B - 1999)
I Am In Love / Sacred Cow / You Can Touch / Help Is Coming / I Love You Dawn / Dr Livingstone / My Telly's Gone Bung / Private Uinverse / Lester / Anyone Can Tell / Recurring Dream / Left Hand / Time Immemorial
Alguém se lembra dos Crowded House?
Whenever I fall at your feet
And you let your tears rain down on me
Whenever I touch your slow turning pain
de Fall At Your Feet, Neil Finn (Album Woodface)
Descobertas
Apesar de já andar nisto há algum tempo, não consigo deixar de me surpreender com alguns locais:
Matraquilhos
Elsinore
Para ler e reler e reler...
abril 20, 2004
Naquela noite (voltara a sonhar com a livraria)
Entrava, subia e descia
lances de escadas intermináveis
que me levavam a lugar nenhum.
Espreitava os quartos vazios
e os corredores longos
exausta, deixava-me cair no chão
sujo de musgo e ervas.
E de repente, um cheiro a flores
lírios, beladonas, violetas.
O cheiro do mar cada vez
mais intenso, mais perto, e
era quando a neblina entrava
também neste lugar estranho
envolvia tudo,
deixando-me ainda mais sozinha.
abril 19, 2004
OUT OF SEASON
Ouvia Beth Gibbons
e estava a ficar velho,
como toda a gente. Bebia
logo pela manhã gins tónicos
- um gosto que lhe ficara
da adolescência, de tudo o que
não fica. Sempre com muito limão.
Parecia - antes fosse - uma fotografia
a preto e branco. Duane Michals,
de preferência, desde que lhe
trouxesse, sem rodeios,
o inevitável suplício do corpo.
Senta-se, levanta-se. Os livros
que não lê crescem à sua volta,
tornam um pouco mais alto
(um pouco mais negro, também)
o gato que lhe morde devagar a mão
- a que não escreve agora estes versos.
Manuel de Freitas, Blues for Mary Jane, &etc
Para a Inês, que anda obcecada com o Manuel de Freitas e os seus charros e para a Cristina da Janela pelo seu bom gosto.
ABRIL COM R, de Manuel Alegre
Trinta anos depois querem tirar o r
se puderem vai a cedilha e o til
trinta anos depois alguém que berre
r de revolução r de Abril
r até de porra r vezes dois
r de renascer trinta anos depois
Trinta anos depois ainda nos resta
da liberdade o l mas qualquer dia
democracia fica sem o d.
Alguém que faça um f para a festa
alguém que venha perguntar porquê
e traga um grande p de poesia.
Trinta anos depois a vida é tua
agarra as letras todas e com elas
escreve a palavra amor (onde somos sempre dois)
escreve a palavra amor em cada rua
e então verás de novo as caravelas
a passar por aqui: trinta anos depois.
Manuel Alegre
Lido aqui
Conversa(s)
(uma amiga chega perto da outra com um livro embrulhado em papel pardo)
- Então, foste às compras?
- Foi só um livro...
- Hmmm, espero que seja do Pina.
- Quem? É o Admirável Mundo Novo, disseram-me que é muito bom.
- Disseram-te? Hmmm E por acaso não te disseram também para não leres o Regresso ao Admirável Mundo Novo, que estragava o primeiro?
- ... Disseram... como sabias isso?
- Pois... era melhor teres comprado um do Pina, deixa lá. Vamos beber um café?
- Vamos...
Dois poemas de Vincent Bengelsdorf
Não somos este nem este, mas deixamos aqui dois poemas do Vincent, na tentativa de cumprir um sonho:
Não há escolhas no Paraíso
Aprendo as cores com os teus olhos,
que fazer com toda esta liberdade?
As portas estão abertas e revelam-nos
o centro do maior espectáculo do mundo,
aqui não é preciso escolher o bem maior,
Nirvana ou Dostoiévski, Benfica ou Sophia,
podemos ser tudo ou nada, algo o dirá.
De resto, já pouco haverá a temer:
os fármacos mataram a tragédia clássica
e já não é possível morrermos de amor.
Avança comigo, vamos dançar.
Carrinhos Matchbox
Chegou também ao quintal o Inverno,
os ramos são raízes no céu de escuridão.
O homem olha o abandono, as ervas altas
e já não sabe se os pássaros voltarão.
Pega nas chaves do Dodge Daytona
e sente nelas o peso quente do Verão.
Irá correr pela noite e voltará numa manhã,
com o Sol dançando na palma da mão.
abril 18, 2004
Manuel de Freitas
O dia, coalhado, vem de onde
não quero. E acho que mudei um pouco,
como tudo. Até fumo por semana
menos charros do que os livros
que entretanto publiquei. De ti,
obviamente, nada mais pude saber.
Manuel de Freitas, Blues for Mary Jane, &etc
Pelas minhas contas (e com a ajuda da Claire e do Rui), os livros que ele publicou foram nove:
Todos contentes e eu também
Infernos Artificiais
Isilda ou a nudez dos códigos de barras
Game Over
(Sic)
Beau Sejour
Buchlein fur Johann Sebastian Bach
Levadas
Blues for Mary Jane
(editou ainda a antologia Poetas sem Qualidade e o ensaio sobre Al Berto, A Noite dos Espelhos)
Outros números
No mesmo livro:
cigarro - 7 vezes
comboios - 3 vezes
Benfica - 1 vez
Sporting Clube de Portugal - 1 vez
referências a poetas (incluindo o próprio) - 25
Contabilidade
8 é o número de vezes que aparece a palavra "charro" no último livro de Manuel de Freitas, Blues for Mary Jane, &etc, Março de 2004
abril 17, 2004
Tinde_sticks
A noite de ontem foi especial. Não encont_ei a nossa minist_a, nem o _ecentemente anunciado candidato da coligação às Eu_opeias. Encont_ei, isso sim, um out_o cabeça de lista às mesmas eleições, mas de um pa_tido de esque_da. Não o ouvi canta_. Te_á sido das ofe_tas co_-de-l_anja logo à ent_ada?
P.S. - este post vai sem "r"'s no seguimento do ca_taz comemo_ativo dos 30 anos do 25 de Ab_il. Ou como di_ia Morais Sa_mento, sem "g"'s.
abril 16, 2004
Manuela Ferreira Leite de saída
Depois de ler isto:
«Ministra das Finanças pode abandonar Executivo. Para encabeçar lista para as Europeias ou para ocupar cargo de comissária europeia »
penso que talvez a "nossa" ministra prefira cantar outra coisa logo à noite:
Travelling light
There are places I don't remember
There are times and days, they mean nothing to me
I've been looking through some of them old pictures
They don't serve to jog my memory
I'm not waking in the morning, staring at the walls these days
I'm not getting out the boxes, spread all over the floor
I've been looking through some of them old pictures
Those faces they mean nothing to me no more
Chorus:
I travel light
You travel light
Everything I've done
You say you can justify, mmm you travel light
I can't pick them out, I can't put them in this saddle bag
Some things you have to lose along the way
Times are hard, I'll only pick them out, wish I was going back
Times are good, you'll be glad you ran away
Chorus
Do you remember, how much you loved me?
You say you have no room in that thick old head
Well it comes with the hurt and the guilt, and the memories
If I had to take them with me I would never get from my bed
There's a crack in the roof where the rain pours through
That's the place you always decide to sit
Yeah I know I'm there for hours, the water running down my /your face
Do you really think you keep it all that well hid?
No but I travel light
You don't travel light
Everything I've done
It's just a lie, you don't travel light
I'm travelling light
No you don't travel light
I travel light
No, no, you don't travel light
I'm travelling light
You don't travel light
Tindersticks
Primeiro Ministro
Temos um Primeiro que recita Alexandre O'Neill. Que diz bem do Saramago, do 25 de Abril (sempre) e que volta a recitar O'Neill, desta vez ajudado por um pequeno bloco de notas. E ainda há quem diga que o "país cultural" vai mal... Melhor do que isto só se a Odete Santos fosse Presidente da República... (sic) ou o Quim Barreiros.
Penso, assustado, no que se vai seguir... Morais Sarmento a declamar o "Adeus" do Eugénio de Andrade, Paulo Portas "A Carta da Paixão" de Herberto Helder... Ou, quem sabe, a Manuela Ferreira Leite, logo à noite no Coliseu a cantar a plenos pulmões:
Patchwork
I know it's wrong
I know it's selfish
It's such a short life
With so little time
You know this pattern
Patchwork of any direction
Cobbled together
In odd shape and size
Take my hand, we'll walk through this together
But my hand gets sweaty
You somehow slip away
Try to call you, but I don't call too loud, no
Try to love, and never look that hard
Chorus:
Cos this blue's a swirling ocean
The green: the ambition
The red is the guilt
There's a lot of red
I know it's wrong
I know it's selfish
It's such a short life
So little time
Try to call you, but I don't call too loud, no
Try to love, and never look that hard
Chorus
The yellow is my sunshine
Comes out on odd occasion
Barely enough to keep you around
Tindersticks
abril 15, 2004
abril 14, 2004
Faltam 2 dias e 4 horas
tiny tears
You've been lying in bed for a week now
Wondering how long it'll take
You haven't spoken or looked at her in all that time
For that was the easiest line you could break
She's been going round her business as usual
Always with that melancholic smile
But you were too busy looking into your affairs
To see those tiny tears in her eyes
Chorus:
Tiny tears make up an ocean
Tiny tears make up a sea
Let them pour out, pour out all over
Don't let them pour all over me
How can you hurt someone so much you're supposed to care for
Someone you said you'd always be there for
But when that water breaks you know you're gonna cry, cry
When those tears start rolling you'll be back
Chorus
You've been thinking about the time, you've been dreading it
But now it seems that moment has arrived
She's at the edge of the bed, she gets in
But it's hard to turn the opposite way tonight
Chorus
Tindersticks
A água e o fogo
"Há uma mulher que vê a filha partir para a universidade e o vazio a abrir-se à sua frente. «Agora somos só nós», diz Harrison Ford. «Eu sei», responde Michelle (o seu nome no filme é Claire). Mas ela sente-se sozinha, e da sua solidão nascem sombras, ecos, quando faz amor alguém faz amor na casa ao lado, quando chora no jardim alguém chora do outro lado da cerca.
Só depois começa a ver o fantasma de uma mulher: «She looked like me...only she had green eyes.» Um segundo rosto que se reflecte na água, na névoa, nos espelhos humedecidos («I am in love with moistness», diz uma personagem de George Elliot...)"
Ana Teresa Pereira em O Ponto de Vista dos Demónios, Relógio D'Água
abril 08, 2004
Liquid Diamonds
surrender then start your engines
you'll know quite soon what my mistake
was
for those on horseback or dog sled
you turn at the bend of the road
I hear she still grants forgiveness
although I willingly forgot her
the offering is molasses and you say
I guess I can't take it personaly
I guess I'm an underthing so I
guess I can't take it personalyly
I guess I'm an underthing I'm
liquid running
there's a sea secret in me
it's plain to see it is rising
but i must be flowing liquid diamonds
calling my soul
at the corners of the world
I knoew she's playing poker
with the rest of the strangglers
calling for my soul at the corner of the world
I know she's playing poker and if your friends
don't come nack to you and you know this is madness
a lilac mess in your prom dress and you say
I guess I'm an underwater thing
Tori Amos
abril 02, 2004
O livro das igrejas abandonadas
Só hoje me chegou às mãos este livro, perdido por entre as escolhas que o orçamento limitado impõe. Percebo agora melhor os links deixados pela janela e deslumbro-me de outra forma pelo Jardim dos Frutos Esquecidos:
(...) Tonino vai deixando em Pennabilli os sinais físicos de um reino encantado que ele incessantemente inventa e vai erguendo ao longo das ruas, das esquinas, no interior de uma igreja abandonada: são esculturas em pedra, mosaicos, pinturas, "instalações", relógios de sol e, sobretudo, esse fabuloso Jardim dos Frutos Esquecidos onde entre as plantas raras e já exóticas se descobre a porta de uma capela dedicada a Tarkovski (para quem ele escreveu Nostalgia) ou um casal de pássaros beijando-se e que, projectados sobre a pedra a uma certa hora do dia se transformam nos perfis de Fellini e Giulietta Masina.
Vicente Jorge Silva, do Prefácio Um Camponês Cosmopolita ao Livro das Igrejas Abandonadas de Tonino Guerra, Assírio & Alvim.
Amanhecer em Glastonbury
Portas, imensas e nocturnas portas, quando o que desejamos é um rasgão luminoso.
Mário Rui de Oliveira, O Vento da Noite, Assíro & Alvim
Nunca a descida nos custou tanto
os olhos cegos para a cidade
sem espelhos como Shalot,
o amanhecer em Tor ou nos Almendres
a nossa vocação sempre foi rodear
os símbolos, rasgar os ícones,
para que tudo seja como sempre foi
"junto da janela logo atrás de ti."
Mais aqui